ENAMORADO
Tu que me revestes
os lábios de mel
Que tece colares
de pérolas
em minha cabeleira
Que me trançam os olhos
na relva da noite
Conheces acaso
o martírio
das faces em retalho,
de um espelho?
Sabes o que é
se lançar
no avesso das horas
E reverte-se em granizo
em liquidez evaporante
em segundos
de si mesmo?
Acaso conheces
a renuncia
das gemas preciosas
em um anel,
em vias de juras
sagradas?
Ouves a voz do vento
o canto das tempestades?
O que te importa?!
Porque me consomes
com o teu brado?
Um abandona-se
seria a culminância
de nossos atos!
Afora tudo isso
que eu julgo possuir
e que não
compreendes em mim
Alentas a esperança
em teus braços fadigados
farejando-me
os passos noctâmbulos
Mas veja!
Meu coração transpassado
por um caule espinhoso
Suculenta dor
o pigmenta e o bombeia
e ele sangra a vida
de algum bem amado
De alguma dança
entre dedos selvagens
E versa as horas
em espera factível
O que achas?
Não seriam os fatos
bruma ao meio-dia?
Ou consolo
de intempestiva paisagem?
LOndres, 2008