ENAMORADO

Tu que me revestes

os lábios de mel

Que tece colares

de pérolas

em minha cabeleira

Que me trançam os olhos

na relva da noite

Conheces acaso

o martírio

das faces em retalho,

de um espelho?

Sabes o que é

se lançar

no avesso das horas

E reverte-se em granizo

em liquidez evaporante

em segundos

de si mesmo?

Acaso conheces

a renuncia

das gemas preciosas

em um anel,

em vias de juras

sagradas?

Ouves a voz do vento

o canto das tempestades?

O que te importa?!

Porque me consomes

com o teu brado?

Um abandona-se

seria a culminância

de nossos atos!

Afora tudo isso

que eu julgo possuir

e que não

compreendes em mim

Alentas a esperança

em teus braços fadigados

farejando-me

os passos noctâmbulos

Mas veja!

Meu coração transpassado

por um caule espinhoso

Suculenta dor

o pigmenta e o bombeia

e ele sangra a vida

de algum bem amado

De alguma dança

entre dedos selvagens

E versa as horas

em espera factível

O que achas?

Não seriam os fatos

bruma ao meio-dia?

Ou consolo

de intempestiva paisagem?

LOndres, 2008

Iva Tai
Enviado por Iva Tai em 16/11/2008
Reeditado em 16/11/2008
Código do texto: T1286749
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