SANGRANDO

Eu vejo o tempo pelo vidro da janela e sinto que ele me consola;

Só a tarde me assiste nessa hora, que vez por outra não me poupa;

Bote que deriva por onda revolta, invasão depressiva que me assola;

À queima-roupa qual tiro de pistola, pisoteado como folha solta!

Não há motivos aparentes que justifiquem tanta inquietude;

Má sensação de imensa magnitude, espinhos abraçando meu coração;

Indizível vácuo de solidão, impossível tradução de íntima solicitude;

Um fulminante ataque rude, a me deixar sem mínima reação!

Então prefiro me guardar de um mundo que nunca me compreende;

Falar pra mim o que só meu eu entende, desabafar na lágrima caída;

Amordaçar a dor já que não há saída, descrer que fique eternamente;

Sonhar que um vento de repente, derrame luz azul sobre minha vida!

Que sirva toda essa cinza pra me manter pequeno tal como sou;

Que o pão da dor sacie a fome por caminhos levianos;

Não tenho ambiciosos planos, aceito os espinhos que vêm na flor;

Fico como estou, sagrando meus frustrados sonhos!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 01/11/2008
Código do texto: T1260576
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