Almas secas

Meu nome é Severino!

A minha idade eu não conheço bem

Aqui não tem nenhum papel escrito

que prove a existência de alguém

Aqui a gente sofre viu seu moço!

O sofrimento aqui é coisa séria!

Aqui a gente sofre de abandono,

sofre de sede... de miséria

A única coisa que vinga aqui é o sol

Ele vinga da gente todo santo dia

Ele faz da nossa vida um inferno

Ele queima, ele maltrata, ele judia

A vida aqui é igualzinha ao pó

O vento vem e carrega de supetão,

daqui a pouco vira coisa que passou,

e depois ninguém mais presta atenção

Com a gente também é a mesma coisa;

O cabra morre sem conhecer a paz,

é enterrado como se fosse um bicho,

daqui a pouco ninguém “Se alembrá mais”

Também... “se alembrá do quê”?

O nada nunca teve existência!

E o que nunca existiu, seu moço,

nunca haverá de ter consciência

A minha vida toda aqui é só isso:

Uma vivência de martírio eterno!

Uma vida vivida só de sofrimento

Longe do céu... perto do inferno