LAMENTO
Tudo que você me traz, eu guardo
Tudo que você me diz, eu lembro
Não me encontro assim tão desatento
Quanto julga o seu desinteresse
Se você me desse um só alento
Se ligasse para o que eu preciso
Se precisasse do que eu ofereço
Mesmo assim eu estaria aflito
Eu estou a mercê do monumento
Idolatro teu corpo, formosura
Tudo que eu espero em noite escura
É frescura, desejo e movimento
E fazer dum instante eternidade
E fazer da lembrança meu ungüento
Diante da saudade – sofrimento
O sabor da ausência eu não agüento
Boca amarga sem beijo: desalento
Vida jorrada á fora em desleixo
Há de vir um anjo um dia desses
Pra livrar minha alma do tormento
De viver este filme morno e lento
Um cadáver vivo, em lamento.