A Cor e o Amarelo

“Ignorar que vivemos

Cumpre bastante a vida”

Preciso aprender esta lição

Ricardo Reis em Pessoa assim me disse

Mas não ignoro que vivo, vivo

E vivo mal, senhores

Sobre... vivo

Sob tudo (peso) vivo

Subvivo

Viver um dia de cada vez?

Bem diferente de enfrentar um dia após o outro

Não vivo, pois não ignoro

Não vivo pleno, pois vivo o futuro

Que pode doer mais que hipótese do sofrimento?

Angustia mais esperar ou sentir a dor?

Sou prudente, vivo previdente da dor

Sou a formiga, não a cigarra, das angústias

Está tudo acertado com meus desamores

E entregam o leite, à minha porta, de meus desgostos

Preciso aprender a amar como a flor

Que esquece a finitude e brilha por um dia eterno

E se a pisam, me perguntarão

Quem pisa uma flor?

Pisam a grama, rasteira e descolorida

Perfume e cor são escudos de sedução

Exale, indiferente, e receba afagos

Estenda a mão, estendido, e seja pisado

Quero aprender com as flores a esquecer

Mas só vejo verde-amarelado por aí

Gostamos de luz a espargir

Mas sei de terra fenecer...