O OLHAR DA LUA

"Sem ter-me nenhuma piedade
A lua me olha apagada..."

             (Arão Filho - "A Lua Me Olha Apagada")


Às voltas co’a noite que chega
sabendo que o sono não vem
eu vivo essa dor de ninguém;
percebo o vazio do meu leito
e o céu constelado eu espreito,
mas na direção sempre errada.
E o meu coração não se agrada,
pois sabe da dor que me invade:
sem ter-me nenhuma piedade,
a lua me olha apagada...

Se o brilho da lua se foi
eu sei a razão dessa escolha
e não lhe permito que tolha
meu canto. Eu falo ao luar
que sofro, sem fim, sem cessar...
Por mais que minh’alma assim brade,
sem ter-me nenhuma piedade,
a lua me olha apagada....
Perdeu-se a beleza de fada
no escuro do céu; que maldade!

Enquanto uma estrela sustenta,
sozinha, os confins dessa noite,
o bem que eu te quero, esse foi-te
de bela e de grande verdade.
Sem ter-me nenhuma piedade,
a lua me olha apagada....
No espaço da face alagada,
quem diz que o luar não conforta,
jamais adentrou minha porta
e entende bulhufas de nada.


Se alguém me procura, eu insisto,
e digo, ajudar-me quem há de?
Sem ter-me nenhuma piedade,
a lua me olha apagada....
Eu creio, meu bom camarada,
que a bela nem mesmo percebe,
nem quando atravessa essa sebe,
que eu perco a razão e pareço
um vidro espelhado no avesso,
que nem mesmo um raio recebe.

Não vejo outra luz que me agrade;
sem ter-me nenhuma piedade,
a lua me olha apagada....
Paciente eu espero a virada,
aquela em meu sonho perfeito,
o bem a que tenho direito,
porque meu querer é real.
Do rosto elimino esse sal
e olhar embaçado, eu aceito
o brilho que chega até mim!



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