DOR

Voltados para a dor estão meus sentidos

Dor marcada por estacas demarcando o nada...

Envolta em desalentos, os meus vestidos,

Travo esta batalha sem escudo e sem espada!

Meu corpo castigado a ferros pela vil dor

Vai me destituindo de vida, triste sina...

De águia liberta, minhas asas de condor,

Em ser prisioneira do tédio, me ensina!

Que me resta, meu Deus? Pergunto agora,

Em vão debato-me neste mórbido processo

Meu coração verte toda lágrima que chora

Sem ter da felicidade, a porta de acesso!

Sem ânimo, sem esperança, sem rumo...

Distante a cada dia, de tudo e de todos,

Do aroma da flor deletéria, eu me perfumo

E vou colhendo essas roxas flores no lodo!

Meus nervos de aço são as barras da cadeia

Que me tolhem a leda liberdade de ser vivo

Na escuridão, ergo a negra luz desta candeia

Enquanto, entre os que jazem, eu sobrevivo !

E tendo meu corpo triturado, em desalento...

Escondo a face numa máscara de desgosto;

A esperança de um bálsamo, triste alento,

Traça-me um sorriso pálido no meu rosto!

Quero a ventura de ser liberta desta tristeza,

Ao me ver despencar do cadafalso da tortura;

E levar comigo, enfim, esta chave, única certeza:

Que pelas mãos dos homens, Deus também cura!

E enquanto me debato no paroxismo da dor,

Refletindo no infinito azul, esta luz tão pálida...

Espero por tuas mãos, estendidas por amor,

Teu cuidado e teu sorriso em tua face cálida!

SIRLEY VIEIRA ALVES - 15/OUTUBRO/2008