NÃO CHORES! Ó MEU RIO ITAPECURU!



Nascendo no sul do Maranhão,
Nas correntezas do grande oeste,
Rumando nas profundezas da região,
Desemboca na Baía de São José,
É ele: O Rio do meu nordeste.

Neste belíssimo Golfo Maranhense,
Rio que rega todo o meu solo,
Da Princesa do Sertão Caxiense,
Correndo de oeste para leste em prol.

Meu curso d’água é o Rio Itapecuru,
Rio camarada de velhas tradições,
Mestre e divindade como um guru,
Escoava do interior as produções.

Chegando a São Luís, na Ilha do Amor,
Eterno, onde nasceu a estrada de ferro,
Em dois trilhos cantando os bem-te-vis,
De São Luís à Teresina, vigoroso e fero!
Correndo paralelo ao leito do Rio Itapecuru,

Abriu-se o mar de asfalto negro nas matas,
Surgia a BR 316 na década de sessenta,
O meu rio foi perdendo todas as fortalezas,
Servindo apenas de um mero passado.

Mas, não perdeu a tua importância,
É fonte d’água de muitas cidades,
No semblante do Rio Itapecuru,
É dele que nascem as maldades.

Desenvolveu o interior do Estado,
Trouxe presidentes, governadores,
Políticos, colonizadores e autoridades,
Servindo de um grande baluarte.

Caudaloso Rio Itapecuru! Itapecuru!
Dos açoites da navegação a vapor,
De Caxias, Princesa do Sertão,
Até São Luís do meu Maranhão.

Subindo corredeiras na lentidão,
Voavam as lanchas com precisão,
Escorregando entre as cachoeiras,
Deslizando nas fervuras das águas.

Chegava-se até a cidade de Colinas,
E outras desciam na contramão,
Beijando todos os afluentes,
Batendo nas pedras com gratidão.

Ó meu grande Rio Itapecuru!
Que banhas tantas outras cidades,
Que se elevaram às tuas margens,
Entre os vales, serras e cerrados,

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Vejo-te plangente no leito sofrido,
Mansamente e muito melancólico,
Nas zonas críticas e partidas.

Sem navegação parece um riacho,
Um meio de vida para exploração,
Anarquia sem qualquer preservação,
Indústrias lançam líquidos químicos,
Com elevadas pancadas de maldição.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
O teu povo faz montes de entulhos,
E falam que é desenvolvimento,
Atochando todas as nascentes.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Teu álveo deixou de ser navegável,
Formando intensos bancos de areias,
De uma aberrante degradação sem fim,

Políticas dão forças em tuas margens,
Em troca de um voto para te esquecer,
Destruindo milhões de anos correntes,
E não há ninguém pra te defender.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Não balanças e nem mais sacodes,
Em correntezas bravias os barquinhos,
Que flutuavam em tua pele todos os dias.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Já fostes o berço da cultura de Caxias,
Onde atravessava o poeta Gonçalves Dias,
Descendo rio abaixo com tantas alegrias.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Hoje fazem cemitério e aterro sanitário,
Lançam resíduos e demais dejetos,
É podredouro e jorram escoadouros.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Sei-o que fazem quilômetros de plantações,
Devastando os teus lábios gritantes,
Nos beirais de tuas amáveis correntezas,
É um polígono da cannabis sativa.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Tuas lágrimas caem nas alvoradas,
De um despontar de longos dias,
Refletindo nesta pequena poesia.

Ninguém se preocupa com tuas águas,
E reclamam da grande falta que causas,
E deixam o meu Rio Itapecuru morrer,
No deserto do terceiro milênio,
Não acredito, porém, agora posso crer.
Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!



ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 13/03/2006
Reeditado em 30/09/2011
Código do texto: T122815
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