TEMPO ESGOTADO

Ah, o tempo que voa,

o tempo que passa,

o tempo que escoa,

o tempo que traça

o trajeto do homem

até a última praça,

num espasmo de choro

onde as carpideiras

entoam um último cântico

de mau-agouro.

É tarde demais,

já não temos tempo,

já somos passado,

já somos monturo,

voltamos ao pó

do nosso futuro,

escuro futuro

que juro, não entendo:

se é pra morrer, o porquê

de vivermos,

se é pra viver, o porquê

de morrermos?...

Ah, o tempo bandido,

que nos torna vencidos,

o tempo esgotado

dos pobre-coitados

que sofrem calados,

pisados, açoitados,

cuspidos, escarrados,

nas dores do mundo,

perdidos no tempo,

decrépito templo

de um corpo cansado.

É chegado o tempo

do último espasmo,

do último suspiro,

do último momento,

do último tiro,

do último tormento,

do último verso...

Tempo esgotado.