Não-poema, não pensar!
Tenho todo o tempo do mundo...
Tenho toda a liberdade de que preciso...
Mas de que adianta tempo e liberdade
Quando não se tem ânimo ou vontade?
O relógio se arrasta e o ar que vem da janela me sufoca.
A porta se abre sozinha e meu braço forte a trancafia!
Braço fraco, corpo envergado...
Resmungo de barriga cheia? Não.
Contradição Humana? Talvez.
Desejo do que se não pode? Provavelmente.
Melancolia? Este é o nome!
Romantizar tal estado?
Nunca!
Por isso este poema não é poesia
Apenas desabafo em versos...
Versejo por não saber dizer
Quem diz apenas fala aos corpos
Quem poetiza comunica às mentes!
Eu já não faço um nem outro:
Dizer é penoso e desgracioso
Poetizar é difícil e trabalhoso
Requer a criatividade que a bile negra macula!
Sou todo nódoa que esconde a pele arrepiada
Sou nada excitação afogada em feridas,
Purulentas, latejantes, que se recusam a fechar,
Que insistem em acionar a lembrança,
Aquela prima da loucura!
Já não penso mais...
Feliz é quem tem espasmos de amnésia
(Ou penso?)
Quem substitui uma lembrança por outra
(Será possível não pensar como recomendam?)
Numa escalada rumo à tranqüilidade
(... Por um instante que seja?)
Subindo ininterrupto, solene,
Pelos degraus de paz em bela envergadura!
Mas rastejando ninguém sobe escadas...
Submissão vem a galope sonoro e impávido
Para te derrubar, fraco, do cavalo cansado
Submissão, não, prostração, eis a palavra,
Palavra de mau som, pois não quero poesia
Quero sim o fel, não quero a fruta madura!
Parar, descansar, respirar, pensar...
É possível verbalizar um assim estado de espírito?
Não, eu digo que é mais fácil substantivar:
Mácula, nódoa, loucura, angústia, fratura!