muita coisa
Muita coisa
a dizer
a sentir
a senilidade escorrendo pelo corpo
O suor azedando o dia
Lábios se recusam às falas
Palavras se negam aos sentidos
Braços de mais
Braços de shiva
Braços entremeados de dor e movimento
Silêncio de catedral
Pássaros cantam em coro a
Prece regurgitada da vida
Celebram a manhã
Num sobrevôo apartado
Do horizonte
Muita coisa
ementada por sínteses misteriosas
Olhos que imporiam segredos
Que pediriam para serem decifrados
Mas no entanto,
Tudo é aberto.
Portas abertas.
Pulsos abertos.
Janelas abertas.
Olhos abertos ao hermético mundo interior.
Catre aberto ao pássaro que não sabe voar.
Muita coisa
E quase nada
O absoluto e reto
Ao lado do restrito e pontual.
No silêncio do escrutínio
O sigilo implacável da consciência
Poderá a culpa superar o medo?
Poderá tanta coisa me desumanizar
Ao ponto
de eu ser então as palavras
E os sentidos se independerem e fazerem
outras vítimas...