ruas poéticas
Por ruas poéticas
O contraste diário da dura realidade
O relógio reluzente dourado na vitrina
Bem ao lado do mísero mendigo
Maltrapilho e aleijado
a esmolar atenção e donativos
Por tuas poéticas
Minha depressão cinza
Se mostra aguerrida
pintada no cal diário das
relações humanas
Grita o gavião alucinado
atrás dos pombos
Que como pragas urbanas
empesteiam a cidade de
doença e caos...
Por ruas poéticas
as placas nos informam
Catatonia surreal:
Vende-se casa
Aluga-se vaga de garagem
Toma-se conta de crianças
A casa não quer ser vendida
A garagem permanece vaga e vazia
e, ama a sua solidão pavimentada
E, as crianças são tomadas
Pelas contas,
Pelas tabuadas,
Pela matemática perversa dos anos,
do tempo e
da história
Pelas poéticas ruas
A poluição é lirismo
O trânsito é metabolismo
E,eu um idiota a anotar
tudo mentalmente
nas retinas
enrugadas pelo sol.
È fim de inverno
Promessa de primavera
A flor é nossa trégua, enfim.