PEDAÇOS
Olhos frígidos e indiferentes esmagam almas ardentes;
Que sangram por entre os dentes, vertendo lágrimas pelas entranhas;
Crises estranhas são essas que congelam o sentimento das gentes;
E o muda tão de repente, condenando ao pó suas venturas e façanhas!
Seu dorso é cruel como a invasão noturna que dissipa a tarde;
Toda temeridade faz jus ao que jamais pediu a face que sorriu;
Acham-se fogo e pavio, dilacerando uma paixão por toda eternidade;
É a insanidade, furtando do coração a felicidade e lhe doando a um destino vil!
Dores são inteiras, mas o triunfo do amor chega aos pedaços;
Quando agoniza nas lamas dos fracassos, relembra seus dias floridos;
Injustos invernos sofridos, açoitando o pranto com cansaços;
Olhos sob inchaços, por culpa de seus sonhos repartidos!
Queira-me bem meu quarto escuro, é tudo que quero;
Pois do sol mais nada espero, já que de costas me despreza;
E essa injúria que me lesa terá sua paga no futuro que nem espero;
Mas não me desespero, pois a solidão é o que mais me pesa!