Existo, Logo Morro

penso, logo existo

Descartes, sua bicha, você tinha razão

mas será que o excesso de existência

provocará explosão?

será que a cabeça inflada

por considerações e cogitações

anulará minha existência

com tanta existência?

de tanto existir, esqueço de viver

por isso que a máxima prevalece

muitos são os que existem

poucos são os que vivem

muitos pensam demais

poucos agem de verdade

o coração tremula o punho

e contra o cérebro vocifera

o cérebro altivo olha com desdém

e despreza

pensa, existe, considera, pesa na balança

mede o buraco e passa ao redor

abraça o passado e despreza o futuro

e despreza

a roda da vida parou

porque resolvi existir

porque resolvi pensar

porque não sei agir

não sei sorrir

e nunca mais chorei

por você

por eles

por mim

o homem que existe, não chora

porque esquece

mas aquele que vive, sorri

porque lembra

lembra sem pensar

lembra pra esquecer

sim Descartes, sua frase tem verdade

mas você esqueceu

não sei se por falta de tinta ou por falta de voz

existo, logo morro.