INSATISFAÇÃO
Insatisfação
Como um pano no fim de um ato,
Cai por terra a capa que me cobriu
Toda a minha vida.
E, de repente, me vejo desnuda.
Encontro-me comigo mesma
E me espanto! Não me conheço...
Não tenho na alma
Nada do que imaginei.
E quando busco algo de bom em mim,
Nada encontro no meu interior.
Que estranha criatura eu me tornei!
Que personalidade tão estranha e tão fraca
Apresenta-se ao ver-me sem a capa
Que me protegeu de mim
Todo esse tempo!
Quem serei eu?
Uma pessoa lúcida capaz de distinguir
O certo do errado?
Ou uma louca incontrolada
Incapaz de raciocinar?
Uma artista que vive a cada dia um papel
A cada nova personagem que se apresenta?
Ou uma expectadora pronta para aplaudir,
Ávida das mentiras folhetinescas,
Cansada das tristes verdades deste mundo?
Uma intelectual com a mente povoada
De citações de grandes filósofos?
Ou uma leiga incapaz de saber
Se é ou não feliz?
Se algum dia,
Eu vier realmente a me descobrir...
Nem a lúcida ou a louca,
Nem a artista nem a expectadora,
Nem a intelectual ou a leiga,
Nenhuma delas me fará feliz.
Pois a minha felicidade ficou
No exato momento em que o pano caiu
E eu deixei de ser prá mim,
Eu mesma!
(Lenir MMoura)