morbidez

Caía meu coração no final da tarde

nos sangrentos raios do pôr do sol

Desmaiado mas ainda suspirava sôfrego

Não lembrava mais das marcas da dor

enquanto as cicatrizes todas se abriam

A espirrar sangue, lágrimas, suores

Dedos úmidos e trêmulos

Procuram o gatilho da roleta russa

E o dedo erra

A sorte erra

No quarto impessoal do hotel

O despertencimento era inundante

Eu, o mar, o rio e a desesperança

O frio, o vento e os sotaques

Um tépido desespero percorre paulatino

minhas veias

Que insistem em sangram por viver

E a morte era redenção

Era bênção mágica do esquecimento

E da tumba sem epitáfio

Palavras mortas sobre mortos

Palavras esculpidas em pedras

Antes meros fonemas,

hoje registros gráficos sulcados sobre o fim

Antes signos cegos a procuram da semântica seca.

Hoje semântica cega à procura de signos secos...

O vento traz lembranças de Paquetá

A ilha secreta de sol e charretes que pararam no tempo

No romantismo mal-sucedido das cortesãs

No pequeno mundo encantado cercado de águas e

mistérios

A extrema turbulência deixa corpos incertos, inexatos

A procurar a estabilidade invisível das retas

Meu sono preocupava-se com a tristeza iminente

Mas trazia tanto de mim, como uma charrete

Lenta e certeira

E há pouco do tempo...

Surto silencioso de túnel fechado e sem luz.

O gosto amargo da derrota

De não ter chegado

De não ter imaginado

Apenas de ter ficado sozinho chorando

no escuro.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 21/08/2008
Código do texto: T1139696
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