morbidez
Caía meu coração no final da tarde
nos sangrentos raios do pôr do sol
Desmaiado mas ainda suspirava sôfrego
Não lembrava mais das marcas da dor
enquanto as cicatrizes todas se abriam
A espirrar sangue, lágrimas, suores
Dedos úmidos e trêmulos
Procuram o gatilho da roleta russa
E o dedo erra
A sorte erra
No quarto impessoal do hotel
O despertencimento era inundante
Eu, o mar, o rio e a desesperança
O frio, o vento e os sotaques
Um tépido desespero percorre paulatino
minhas veias
Que insistem em sangram por viver
E a morte era redenção
Era bênção mágica do esquecimento
E da tumba sem epitáfio
Palavras mortas sobre mortos
Palavras esculpidas em pedras
Antes meros fonemas,
hoje registros gráficos sulcados sobre o fim
Antes signos cegos a procuram da semântica seca.
Hoje semântica cega à procura de signos secos...
O vento traz lembranças de Paquetá
A ilha secreta de sol e charretes que pararam no tempo
No romantismo mal-sucedido das cortesãs
No pequeno mundo encantado cercado de águas e
mistérios
A extrema turbulência deixa corpos incertos, inexatos
A procurar a estabilidade invisível das retas
Meu sono preocupava-se com a tristeza iminente
Mas trazia tanto de mim, como uma charrete
Lenta e certeira
E há pouco do tempo...
Surto silencioso de túnel fechado e sem luz.
O gosto amargo da derrota
De não ter chegado
De não ter imaginado
Apenas de ter ficado sozinho chorando
no escuro.