ELEGIA

 
Estrelas, tão variadas, que transitam
no céu da minha dor tão inclemente:
Distantes, tão distantes que nem piscam
não olham para mim, mas sigo em frente.

Desmancho-me em pedaços de matéria,
sou floco da saudade vaga em mim;
a forma inexistente, sombra etérea,
se chamo o meu amado e vou, sem fim,

estranha como um pássaro ferido
nas penas em que sofre um coração.
Nas hastes do capim procuro olvido,
mas sei que apenas dores mais virão.

E os braços meus, que abraçam o vazio,
que saibam dessas chagas tão internas.
Abaixo dessas máscaras que crio,
o sangue foge às veias e, palermas,

destoam sem piedade do destino
as lutas entre eu mesma e a minha sombra;
lições que, ao perder-me, não ensino
ao ar que mal me chega e já me assombra.

A dor que mais me dói, mais me alimenta,
a estrela que não brilha entre os desvios,
no seu lugar desfaz-se e só atormenta.
Sedenta pela alma escorre em rios,

a seiva, sem calor preenche os braços,
sem nunca alimentar brotos ou flores,
inútil resiliência em seus compassos.
Se a nona sinfonia ouvir... louvores

ou, se tivesse ouvidos, cantaria
comigo a ária exangue e pestilenta
na vasta solidão da pradaria,
pois nela, mais um vácuo se acrescenta.

E só, na solidão impronunciável,
espero mais que venha em meu socorro
pressão nesse vazio, que aumente, agrave-o,
pois de mim, do que sei, só sei que morro. 
 
nilzaazzi.blogspot.com.br