Tristeza
Os sonhos são quimeras vazias,
os pensamentos são teias de nada,
os passos, manifestações estagnadas,
as palavras estão em anistia.
Os pássaros não me cantam,
das rodas de conversa me abstenho,
poupo-me de discursos novos,
não submeto a especulação os que tenho.
Nada muito me importa ou cativa,
a essência das coisas se esvaiu,
só queda-me dos olhos gotas d’água
por manifesto dessa mágoa.
É algo contrito no peito dorido,
antes nada sentiria, era rocha,
agora, depois de tanto ter sofrido
eis que a duro custo a dor desabrocha.
E me é tudo oco ou tão pouco,
escasso, raro e ausente,
creio que qualquer outro
deveras é menos carente.
Só o que por hora me preenche
é essa postura ociosa
de deixar enfim quedar
algumas lágrimas silenciosas.
*Texto fictício.