ALQUIMIA
Hoje eu não quero ver o mundo.
Hoje eu não quero ver ninguém.
Não quero ver nem a mim mesmo.
Por favor, apaguem a luz que ainda resta.
Deixem que a escuridão com sua máscara
Horrenda caia sobre mim.
Não quero falar com ninguém.
A minha própria voz me fere.
Não quero dizer nada.
Minhas palavras são como a espada
Do guerreiro: cortam e ferem como um raio!
Não quero olhar ninguém.
O meu olhar é frio e acusador.
Deixem-me a sós...
Fechem as cortinas para eu não
Ver o mundo tirano e sarcástico
Rindo da minha própria insensatez.
Fechem meus ouvidos...minha boca...
Silenciem a minha voz!
Privem-me do ar que me dá alento!
Assim,todos estarão a salvo do meu veneno...
Fechem todas as portas dos meus sonhos...
Fechem todas as janelas.
Não quero dormir nem sonhar.
Não deixem o vento soprar o meu rosto
Que,encarquilhado e ressequido,
Se esconda de toda gente!
Não deixem que eu pense...
Isolem a minha mente
Do monstruoso labirinto da realidade...
Esvaziem o meu cérebro
Com todos os meus mitos, demônios e sortilégios!!!
Abstraiam até os meus pensamentos,
Não permitam que eles fujam e se
E se transformem e se dissimulem
Em palavras insanas e letais
Que feriram e magoaram
Tantas pessoas que me amaram!
Deixem-me aqui...só...
Não me procurem, não falem de mim.
Deixem que o fluxo e o refluxo do Tempo
Me atirem para as misteriosas
Profundezas do Não Ser!
Um dia, sem passado e sem futuro,
Sem memória...sem história,
Hei de ressurgir...limpo e desnudo...
Um novo Ser...um caminhante
A percorrer as mesmas e velhas trilhas,
Mas com um novo caminhar!
(José C.Ligeski)