Palavras brutas
Não choram as letras para serem criadas;
Desejam, ecoam para serem tiradas
Do mundo em que me afogo em lágrimas
De fundos olhos que fizeram rimas.
Fumaça, carros atropelam passos
De passantes que atravessam ruas
E umbigos baixos de pés descalços
De rostos velhos em crianças nuas.
A miséria e a fome assolam cidades
Ao lado da fartura que se monopoliza.
Cérebros imparciais não socializam
Pela linguagem crua a desonestidade.
Corações exatos continuam fortes
Qual gritos de vítimas no interior de grutas
E costelas magras de crianças brutas
Espancam-se, matam, filmadas sem cortes.
Cenas de televisão tripudiam dentro
Da minha cabeça quase inerte, morta...
De idéias novas, cognição ativa que recorta
Uma paisagem triste tal um quadro.
Como podem as letras desejar criadas
Serem, se torta é a sensibilidade
Sem compaixão nem caridades
Prum mundo com crianças armadas.
Mas as letras calam e não se contorcem,
Não ativam fúrias da massa dormente.
As idéias páram contidas, escurecem...
Vulgares, não são mais sementes.