Triste clamor
De noite [c’o vento frio]
A andar na beira do rio
Não agüento meu pesar: choro!
Logo eu [triste sonhador]
Que desconheço o amor
E tuas carícias imploro
A lua [pobre e mui bela]
Aos prantos quando me vela
Esconde-se em alta ira!
Sabendo que não mereço
[que sem teu colo padeço!]
Revela em luz a sua lira.
Ah! Que fiz p’ra tal castigo?
Não te ter aqui comigo
É mui além d‘ímpia sina!
Logo eu [triste amante]
De amor obscuro, errante
Sofro desde a matina!
Ai de mim! Inda a lembrar
Daquele fúlgido olhar
Na manhã de primavera.
Ó Deus, que me reservaste?
Dos desventurados a hoste?
Deste martírio uma era?
Misérrimo! olhos em pranto
A clamar o arcanjo santo
Pra minh’alma conduzir!
Porque sei que não mereço
[que sem teu afago padeço!]
Da lua um singelo luzir!