DE UM DIA ALEGRE E TRISTE
Acordo o sol da manhã
com o riso rondando a boca.
A vontade, meio louca,
de ser somente alegria.
E um pedacinho de gente,
de repente, me aparece,
mostrando a boca sem dente,
rezando os olhos de prece,
um menino sem ter nome
trazendo, nos pés descalços,
a dor e o frio da fome.
Então meu sorriso some
minha alegria desiste,
Ver um menino sem nome,
com fome, me deixa triste.
Lá pela tarde eu me esqueço
e volto a sorrir de novo,
mas uma mulher do povo
diz meu nome e o repete.
E mostra o rosto cansado,
que nem parece presente,
que nem parece passado,
que só parece o que sente:
fome, medo e abandono.
Um ser humano sem dono
que pela vida se esconde,
que vai sem saber aonde,
em uma ida sem volta.
Drama que ninguém assiste,
que me magoa e revolta
e que me deixa mais triste.
À noite, o céu me aparece
com o pisco lúzio d’estrelas,
e eu me enamoro por vê-las
no céu piscando pra mim.
O céu, do fim ao começo,
é um namorico sem regra,
um pisca-pisca que alegra
meu coração e eu me esqueço,
e penso em felicidade,
que dura pouco. Ao meu lado,
de barbas cor de alvaiade,
parecendo antigo antiste,
um velho vulto saudade
me estende as rugas da mão,
pedindo um pouco de pão.
Então, o pranto me invade
e eu volto a querer ser triste.
Odir, de passagem domingueira