GAVETA DOS MEDOS
GAVETAS DOS MEDOS
Tenho medo dos adjetivos fáceis
E das palavras como rótulos vazios;
E não apenas medo, tenho fobia
Aos estereótipos de uma sociedade vã,
Que cultua o corpo, envenenando a alma,
Em meio às teias das mentiras plásticas !
Tenho medo porque sou humana,
Porque não me encontrei em mim,
Nem me adaptei ao mundo, ao grito,
E à hipocrisia dos risos descartáveis...
Receio, assim, perder-me na multidão,
Como bilhões de outros que têm medos
Estampados ou escondidos nas gavetas,
Inúmeras gavetas da nossa alma,
Surpreendendo-nos como enigmas
Na forma de letras, emoções ou dias,
Incansavelmente trôpegos e tão humanos
Que não sei mais ver gavetas, concretas e frias,
Como meras gavetas em compartimentos tão planos.