CATARSE

O Inferno que me traga

Nada mais é, que o caminho

Que sempre trilhei.

Nada mais, que tudo que sempre fui.

Esta dor que agora me aflige,

Não se deve a alguém,

Senão ao meu mais dissimulado Descaso,

Minha mais explícita Ira.

Cada lágrima de outros olhos extraída,

Tem origem em minha repugnância

E apatia por outrem.

Minhas mãos tremem, os olhos, revelam-se vermelhos e irritados Pelo álcool,

Os lábios secos e a arritmia,

Retratam minha mais íntima Vontade.

[Sumir.]

Não quero conhecer ninguém...

Ser quisto, amado e abençoado,

Não são prioridades para mim.

Não tenho ou busco prioridades.

[Permanecerei só.]

Quero algumas garrafas e maços de cigarro,

Um lápis, papel e todo tempo

Que a mim couber.

Nada me traz a plenitude da melancolia,

Proporciona tanta paz,

Quanto a tortura consciente dos Versos,

O sofrimento cândido em cada linha.

[Inicia-se uma nova vida.]

Agora as lágrimas deram espaço

A uma mórbida indiferença

Que me atrai, seduz e regozija.

Revelo-me a cada segundo.

Entre dias de tédio

E noites de um pensar frenético,

Minha nova jornada nasce,

Até que eu encontre o que tanto desejo

E ignoro.

Dominado por sensações atípicas,

Desejos absurdos,

Criações exóticas,

E dúvidas pungentes, tento continuar.

O odor nas pétalas da rosa desfigurada

Remonta a dias, que à noite,

Procuro esquecer.

Nada mais a dizer.

Pela rosa tive minha parcela, dantes quista,

De amor e júbilo.

Em seus espinhos, a realidade, vil e cruel,

Revela-se onipotente.

Não espero que entendam,

Não desejo que aceitem,

Só espero mais um crepúsculo

Onde tudo -espero- fará sentido, mais uma vez.

Gustavo Marinho
Enviado por Gustavo Marinho em 29/01/2006
Reeditado em 04/12/2007
Código do texto: T105343
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