CATARSE
O Inferno que me traga
Nada mais é, que o caminho
Que sempre trilhei.
Nada mais, que tudo que sempre fui.
Esta dor que agora me aflige,
Não se deve a alguém,
Senão ao meu mais dissimulado Descaso,
Minha mais explícita Ira.
Cada lágrima de outros olhos extraída,
Tem origem em minha repugnância
E apatia por outrem.
Minhas mãos tremem, os olhos, revelam-se vermelhos e irritados Pelo álcool,
Os lábios secos e a arritmia,
Retratam minha mais íntima Vontade.
[Sumir.]
Não quero conhecer ninguém...
Ser quisto, amado e abençoado,
Não são prioridades para mim.
Não tenho ou busco prioridades.
[Permanecerei só.]
Quero algumas garrafas e maços de cigarro,
Um lápis, papel e todo tempo
Que a mim couber.
Nada me traz a plenitude da melancolia,
Proporciona tanta paz,
Quanto a tortura consciente dos Versos,
O sofrimento cândido em cada linha.
[Inicia-se uma nova vida.]
Agora as lágrimas deram espaço
A uma mórbida indiferença
Que me atrai, seduz e regozija.
Revelo-me a cada segundo.
Entre dias de tédio
E noites de um pensar frenético,
Minha nova jornada nasce,
Até que eu encontre o que tanto desejo
E ignoro.
Dominado por sensações atípicas,
Desejos absurdos,
Criações exóticas,
E dúvidas pungentes, tento continuar.
O odor nas pétalas da rosa desfigurada
Remonta a dias, que à noite,
Procuro esquecer.
Nada mais a dizer.
Pela rosa tive minha parcela, dantes quista,
De amor e júbilo.
Em seus espinhos, a realidade, vil e cruel,
Revela-se onipotente.
Não espero que entendam,
Não desejo que aceitem,
Só espero mais um crepúsculo
Onde tudo -espero- fará sentido, mais uma vez.