O FILHO DA LAVADEIRA

Silêncio. Morreu o filho da lavadeira.

O pai é um capinador do roçado.

Foi meningite. Sofreu durante um mês,

sobre um colchão de tecido listrado.

Não vai mais correr pra venda do Zé,

e pedir com voz fraca balinhas de dois centavos,

Nem ouvir ralhar ruidosa a mãe,

por brigar com o irmão e ficar bravo.

Ronda a sala o inconformado pai,

lavrador de Sol a Sol em fazenda perto.

Velou mudo o filho na tapera triste,

às margens de córrego a céu aberto.

Chora aos prantos de lado a professora,

bem que estava se apegando ao beabá.

E havia certa feita decorado a tabuada.

que para ela um dia repetiu sem gaguejar.

Passa perto chorando um amiguinho,

veio encomendar a alma o padre local.

Uma tia abraça a lacrimejante mãe.

a lembrar do presente do último natal.

Silêncio. Cai a tarde. Todos mudos.

aguardam pacientes o último adeus.

Ao filho da lavadeira que foi e não volta.

do destino eterno no encontro com Deus.

Pacomolina
Enviado por Pacomolina em 11/06/2008
Reeditado em 10/03/2014
Código do texto: T1029180
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