COMEÇO TERMINADO

COMEÇO TERMINADO

A

Um murro dado em ponta de faca

São os íntimos relacionamentos fátuos:

Meus, se a memória não me falha.

B

Trilham os sentimentos sempre o itinerário do malogro:

Ainda que faça um grande esforço para sustê-los

No limbo do controvertimento e a fim de que eu possa

Fugir do cruel ultraje da negativa,

Não adianta. Não adianta porque a têmpera dos sentimentos

Suplanta e dissolve a inquebrantável barreira da introspecção,

Fazendo-os chegar á superfície da palavra falada.

Ah, e quando dou por mim, já se faz vã a reação,

Pois já se dera toda a desgraça.

C

Então, a mim, só cabe o ficar na expectativa:

Expectativa de receber o fora mais eufemístico

E civilizado que queiram, a mim, ver devotado em vida.

Sei que é de se estranhar,

Mas, embora pareça comicamente dramático,

É muito estimulante e extático

Ver o olor da adiaforia inundar algumas almas;

Como também o sol de compassividade que emanta almas outras Por mim preiteadas.

D

No final das contas,

No fundo do meu âmago,

Sei, sei que sou cônscio do fado reservado aos preitos

E aos pedidos. Sei que eles acabam trilhando o fado

Do crepúsculo. O fado do cair no precipício!

Ainda sim, momentaneamente, caio no ledo engano daninho

De me engolfar no lago da quimera de ver realizado meu idílio.

Oh, mas afinal, recebo um direto desferido pela navalha da Comunhão: ele dilacera a cara do quadro onirico,

A qual me dispus a trabalhar sobre a tela da mente

Com muito apuro, afinco e adoração.

Sim, percebo agora o quão é azedo o repasto da ilusão:

O que me sobra é o refluir ao cais do ermo porto

Do murro dado em ponta de faca e de facão.

Ah, este sensabor já não dói, não reclama tampouco sangra.

Este sensabor é vão, deserto etéreo, é nulo, é lepra Contemporânea!

Este sensabor não fede nem cheira: é inodoro aroma de tristeza.

Este sensabor é brancura infinita e farta, inane luz que o solo

Da opulência encharca:

Inutil drama escrito por uma existência de balsâmico fel

Em que a sua substância deita tenuemente amarga.

Este sensabor é eterna chama que se extingue:

Um corpo sem vida, porfim, estendido na fria cama

Jacente numa alcova lúgubre.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA