MINHAS NECESSIDADES

Eu não preciso de defensores, mas não vivo sem justiça;

Não necessito de paixões, mas meu coração não se conforma ao ócio;

Abro mão até do chão, mas mesmo assim meu caminhar em algo pisa;

Deixo voar os meus anelos, mas concretizar meus sonhos ainda posso!

Eu não preciso da escrita, mas meus registros são indomáveis;

Não preciso da voz, mas falo alto até quando me calo;

Ignoro todos os controles, sem me escravizar por ondas instáveis;

Lanço garganta abaixo tudo que me oprime, e mesmo assim não me entalo!

Eu não preciso de bens materiais, mas morreria sem meus tesouros;

Não me sinto seduzido por todos os vícios, porque já me basta o meu;

Indesejo voar além do anonimato, porque meus céus já são duradouros;

Não preciso de circos, pois já ando farto do cínico teatro que até aqui me entreteu!

Eu não preciso da fama, porque o peso de me conhecer já é extenuante;

Não vejo a menor necessidade de aplausos, porque as vaias da consciência não esqueço;

Eu não viajo num pretender imaginário, porque a realidade já nutriu o meu instante;

Eu não almejo novos andares, porque já tenho o teto que mereço!

Eu não preciso de amantes, porque nenhuma delas pode me dar o que preciso;

Eu não preciso de ostentações, porque elas odeiam exibir simplicidade;

Não necessito maior vaidade, porque ainda mato a cada dia um ressurreto narciso;

Não preciso purificar minhas mentiras, exceto quando eliminar os lodos da verdade!

Eu não preciso nem de mim, mas dependo visceralmente do que sou;

Desprezo meus valores, mas amo o pouco de virtude que pude acumular;

Posso prescindir de toda alma humana, que jamais me compreendeu e me amou;

Mas admito humildemente que nada sou, sem aqueles que conseguem me amar!!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 04/06/2008
Código do texto: T1019314
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.