SEM PALAVRAS

Eu quero ser branco

feito de papel reciclado,

sem quadrículas,

linhas tortas,

palavras,

versos,

rimas,

pontuações,

ou segundas intenções.

Eu quero ser árido

feito de silêncio mortal,

sem gesticulações,

voz rouca,

palavras,

afetos,

abraços,

nenhum calor,

ou nenhuma grande dor.

Eu quero ser triste

feito uma canção inacabada,

sem movimentos,

sons formais,

palavras,

notas,

pautas,

perdidas ilusões,

ou maiores complicações.

A menos que,

com as mãos em conchas,

dilua tuas trevas,

resgate-me de tuas sombras

e recolha meus desencantos

ou liberte-me das palavras

não pesadas,

que sempre dizes,

como uma predadora de sonhos.