Saudades do carteiro
Ela foi até a porta para recebê-lo
Com sorriso entregou-lhe uma grande e saliente correspondência
Não sabia que causaria tamanha inquietude
O carteiro amigo, e por vezes macabro, sempre faz idéia do que está em um envelope
Ele nos lembra da saudade e das cartas ainda escritas à mão
É bom ver que alguém lembrou da gente
Ficamos felizes
Desânimos agudos se transformam em motivação
Angústias partidas ao vento são reagrupadas em ondas de felicidade
Desejamos o outro, a poesia escondida, o canto na garganta, o livro no estômago
Uma boa lembrança nos traz a vivacidade da criança e a perseverança da irmã de caridade
Abrimos cartas como se a última fosse
Deitamos para vê-la, tal como os guris fazem com os presentes
Ao longe sacudimos o coração cansado e alheio
Em espírito nos abraçamos nas nuvens
Novamente ela abre o sorriso e corre para a vida
Culpa da carta certa no lugar correto
Saudades do carteiro que se foi, mas que deixou a esperança do seu eterno retorno.