NOITE DE SÃO JOÃO
NOITE DE SÃO JOÃO
Sônia Sobreira
É noite de São João! O vilarejo reluz!
Bandeiras e bandeirolas enfeitam mais o lugar.
Em cada canto as fogueiras espantam as sombras da serra,
espalhando brasas vivas fragmentadas em cores,
rolando por sobre a terra.
E completando a alegria tão intensa desse dia,
os festivos foguetões cortam a imensidão do ar,
prá depois caírem ao léu, como cadentes estrelas,
tão bonitas de se vê-las, assim, a cairem do céu.
Brindando a grande festança desta noite sem igual,
espocam as bombas mais raras, tremendo todo arraial.
Quando a tarde vai morrendo, as moças buscam correndo
o nome do seu amor, cravado no bananal
e nem se importam se é Pedro, António, Hilário ou José.
O que importa é a brincadeira e o passar da noite inteira
no famoso arrasta pé.
Mas quando a noite esmaece, a sanfona se estremesse:
A quadrilha vai dançar!
Ao longe, lá no horizonte, piscando quais vagalumes,
cada qual de intenso lume, surgem os primeiros balões
que em silêncio vão subindo qual imensa procissão,
enfeitando a lua cheia, empurando a escuridão.
Em meio a tanta algazarra, o canto da passarada
mostra que o dia raiou. O sanfoneiro adormece,
o braseiro não aquece, não se vê nenhum balão,
a quadrilha já não dança, nem se ouve o foguetão.
Mas, aqui dentro do peito, no fundo do coração,
fica tudo bem guardado. E se num junho qualquer,
a festança retornar: Estarei aqui de pé, explodindo de emoção,
dançando no arrasta pé, dando Viva a São João!