high tech

hoje na primavera contida

as lágrimas brotam de fora para dentro

lavam-me a alma,

embebem-me de perfumes desconhecidos,

esculpe-me a face humana e

frágil

hoje na estação chuvosa,

o vento acaricia minha vontade

de gritar, de grunir,

de gemer as dores intensas

até que exorcizem os demônios

e, na clausura serena do quarto

a porta é muralha inexpugnável

trincos vedam intrusos,

e a maçaneta é ficção que

não quer funcionar

hoje nas vestes cerimoniosas,

talares robustos

estamos munidos com

armaduras medievais com

traços contemporâneos

o telefone é inteligente

o elevador é inteligente

o notebook é onipotente

e, eu reles e humana

e, eu falível e hesitante

não consigo a exatidão

de ser tão high-tech

as ondas do satélite me acham

aonde quer que eu vá...

o chip embutido subcutâneo

me faz ser dectável em qualquer lugar

a pulsar meu corpo quente envolto

de minha alma fria.

eu em minha última

versão quatro ponto cinco

me sinto burra,

não automática,

não programável,

não escaneável.

Errônea e equivocada.

A baixa resolução dos relevos

circundantes

deixam os olhos distantes,

aflitos pois não podem ver

e, não podem ver-se.

não há espelho inteligente

a emoção torneia a visão

com distorções plausíveis

mas não há como rastrear um caminho

que só existe no imaginário

não há como controlar tudo,

o tempo todo...

então,hoje resolvi não envelhecer

nessa primavera chuvosa

de lágrimas de cristal

resolvi beber o licor

enquanto a chuva não passa.

desisti de ser high-tech.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/04/2008
Código do texto: T948723
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