high tech
hoje na primavera contida
as lágrimas brotam de fora para dentro
lavam-me a alma,
embebem-me de perfumes desconhecidos,
esculpe-me a face humana e
frágil
hoje na estação chuvosa,
o vento acaricia minha vontade
de gritar, de grunir,
de gemer as dores intensas
até que exorcizem os demônios
e, na clausura serena do quarto
a porta é muralha inexpugnável
trincos vedam intrusos,
e a maçaneta é ficção que
não quer funcionar
hoje nas vestes cerimoniosas,
talares robustos
estamos munidos com
armaduras medievais com
traços contemporâneos
o telefone é inteligente
o elevador é inteligente
o notebook é onipotente
e, eu reles e humana
e, eu falível e hesitante
não consigo a exatidão
de ser tão high-tech
as ondas do satélite me acham
aonde quer que eu vá...
o chip embutido subcutâneo
me faz ser dectável em qualquer lugar
a pulsar meu corpo quente envolto
de minha alma fria.
eu em minha última
versão quatro ponto cinco
me sinto burra,
não automática,
não programável,
não escaneável.
Errônea e equivocada.
A baixa resolução dos relevos
circundantes
deixam os olhos distantes,
aflitos pois não podem ver
e, não podem ver-se.
não há espelho inteligente
a emoção torneia a visão
com distorções plausíveis
mas não há como rastrear um caminho
que só existe no imaginário
não há como controlar tudo,
o tempo todo...
então,hoje resolvi não envelhecer
nessa primavera chuvosa
de lágrimas de cristal
resolvi beber o licor
enquanto a chuva não passa.
desisti de ser high-tech.