Universo

Esse meu sentimento-alvo,perdido

numa rua suja e escura no centro do meu coração

prevejo uma viagem quase perdida e sem volta

(e aquela música suave no mp3)

A voz rouca de uma senhora idosa contando ao filho os desígnios de Deus

e em meu pensamento eu praguejava e desrespeitava os desígnios de quem quer que seja.

Cerveja,sexo,algumas canções de artistas falidos e poesias deprimentes de poetas mortos.

Uma fumaça fedida de cigarro,um beijo que nem foi cogitado

e de novo eu choro nem sei por quem e para que.

O universo,um minúsculo universo,explodindo retoricamente por entre meu sangue.

Onde está aquele sorriso?

Cavernas de aço

olhos,lábios,esquinas

e o ruído de mil melodias descompassadas

sacrificando e crucificando ordinariamente aquele Cristo estampado na parede.

Bebo um café e grito o mais alto possível

Cabelos,sangue, unhas,uma ferida enorme e aberta no fundo do espírito

(e a dor mal disfarçada entornando reflexos escaldantes por sobre a fria camada de ódio que repeliu e repele toda e qualquer felicidade)

Eloquência inoperante

Maldisse tantas vezes essa virtude

e quem dera me abandonasse sem avisar

num súbito homicídio sem armas, sem sangue, sem medo

Chamei você pelo nome

e quando você me viu se calou e desviou o olhar e atravessou a rua e bateu suas asas para uma dimensão que nem ouso percorrer

Mas te encontro em qualquer esquina,em qualquer sofá, no sonho que não terminei,e na promessa vazia que fiz e que se transformou em destino

e mais uma vez o Sol derramou seus raios na sua janela fechada

e você dormiu,quase cega, na grama alta dos seus devaneios.