Saudade de mim
Onde estão os sonhos que um dia vivi?
O sorriso - mesmo murcho -, que um dia sorri?
Onde estão os sonhos, adormecidos, jogados ao ermo,
esquecidos no chão débil do meu ser enfermo?
Aonde vão o riso, o feitiço e o castigo,
que voam, esquecidos, perdidos?
De que são feitos os meus pesares,
meus sustos, meus olhares?
De onde vem o líquido quente,
dos olhos nunca ausente,
que rola, que banha, que molha,
que minh'alma dia e noite assola?
Por que razão se vão meus olhares,
Se em meu peito há tantos lugares
ainda não habitados,
esquecidos, estéreis, acabados?
Saudade de mim que se foi;
saudade de mim que se vai;
saudade de mim que passei.
Saudades do meu olhar pulsante,
ao ver o amálgama errante
dos meus sonhos, dos meus prantos -
do meu lamento.
Saudade do tempo perdido,
do canto, do olhar esquecido;
de mim mesmo, que sonha - que grita!
Que contra a perda de mim recalcitra.
Saudades... da mão, do cheiro, do beijo!
Do sabor, da boca - desejo!
Saudade de mim - sim, de mim mesmo.
Já que eu mesmo me fui,
pra morar num lugar distante,
onde ando, surdo e errante.
Sem sonhos, sem luar,
sem canção: seu coração.