Saudade de mim

Onde estão os sonhos que um dia vivi?

O sorriso - mesmo murcho -, que um dia sorri?

Onde estão os sonhos, adormecidos, jogados ao ermo,

esquecidos no chão débil do meu ser enfermo?

Aonde vão o riso, o feitiço e o castigo,

que voam, esquecidos, perdidos?

De que são feitos os meus pesares,

meus sustos, meus olhares?

De onde vem o líquido quente,

dos olhos nunca ausente,

que rola, que banha, que molha,

que minh'alma dia e noite assola?

Por que razão se vão meus olhares,

Se em meu peito há tantos lugares

ainda não habitados,

esquecidos, estéreis, acabados?

Saudade de mim que se foi;

saudade de mim que se vai;

saudade de mim que passei.

Saudades do meu olhar pulsante,

ao ver o amálgama errante

dos meus sonhos, dos meus prantos -

do meu lamento.

Saudade do tempo perdido,

do canto, do olhar esquecido;

de mim mesmo, que sonha - que grita!

Que contra a perda de mim recalcitra.

Saudades... da mão, do cheiro, do beijo!

Do sabor, da boca - desejo!

Saudade de mim - sim, de mim mesmo.

Já que eu mesmo me fui,

pra morar num lugar distante,

onde ando, surdo e errante.

Sem sonhos, sem luar,

sem canção: seu coração.

David Silva
Enviado por David Silva em 31/03/2008
Reeditado em 03/05/2008
Código do texto: T925581