O sorriso em movimento
O sorriso de esmeraldas teima em não se abrir no interior do coletivo.
Vítima dos solavancos sem fim, a bela se apega às janelas que passam.
O perfil tenso e forte paulatinamente se rende aos largos lábios que abrem
Brincos cintilantes balançam conforme o repousar das rodas grandes do veículo
A multidão cega se aglomera e dá de costas ao belo sorriso que ilumina o ônibus
Aos poucos, os cegos viajantes vão deixando o navio, um após o outro.
Ponto a ponto desce mais um do navio negreiro entupido de gente
O próximo ponto parece ser o dela
Com pés finamente fincados no corredor, ela se contorce entre os que bloqueiam sua passagem
Aperta os olhos e os lábios, outrora abertos e em luz,
Puxa a cordinha azul e novamente as pérolas se abrem
Decidida vai colocando finamente o corpo diante dos que estão frente ao seu.
Delicadamente vai descendo, apega-se ao corrimão e um degrau após outro se vai...
Tal como a brisa da manhã que acorda minha saudade.