poeira

da poeira do tempo

levante um pólen num aceno de vida

rodopia uma maço de capim

milhões de micropartículas bailam

ante meu nariz agoniado

espirrei até à exaustão

com meus olhos amiudados

vi ralar ao corpo a grossa poeira com o vento

a banhar-me de estranha bruma

agora, não se espirro ou apenas suspiro

na ânsia louca de apenas respirar em paz.

essa alergia é uma reação ao mundo reinante

uma reação desesperada a procura de sobrevivência

o corpo se esgueira,

e afina a alma estreitada nas frestas dos caminhos

pudesse passaria incólume

ninguém passa incólume pela vida

os talhos, os cortes, as manchas,

as tatuagens queridas ou não marcam

definitivamente nossa história, nossa genética.

a alergia é genética.

mil e um ascendentes tinham a mesma reação alérgica

a mirra,

ao benjoim,

a alfazema

ao perfume embriagador e irritante

deveria ser crime não saber se perfumar com

discrição

Deus, salve os alérgicos!

Porque os exagerados, esses não tem salvação.

nas partículas ínfimas da poeira

lá vai um resto de móvel, de múmia, de cobre

pedras, água, sol e vento

tudo misturado

assim compulsivamente

a nos amalgamar nessa vida.

E, a gente insiste em apenas ser indivíduo.

E, minha consciência grita biblicamente:

- do pó vieste, ao pó voltarás...

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 23/03/2008
Reeditado em 24/03/2008
Código do texto: T913469
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.