poeira
da poeira do tempo
levante um pólen num aceno de vida
rodopia uma maço de capim
milhões de micropartículas bailam
ante meu nariz agoniado
espirrei até à exaustão
com meus olhos amiudados
vi ralar ao corpo a grossa poeira com o vento
a banhar-me de estranha bruma
agora, não se espirro ou apenas suspiro
na ânsia louca de apenas respirar em paz.
essa alergia é uma reação ao mundo reinante
uma reação desesperada a procura de sobrevivência
o corpo se esgueira,
e afina a alma estreitada nas frestas dos caminhos
pudesse passaria incólume
ninguém passa incólume pela vida
os talhos, os cortes, as manchas,
as tatuagens queridas ou não marcam
definitivamente nossa história, nossa genética.
a alergia é genética.
mil e um ascendentes tinham a mesma reação alérgica
a mirra,
ao benjoim,
a alfazema
ao perfume embriagador e irritante
deveria ser crime não saber se perfumar com
discrição
Deus, salve os alérgicos!
Porque os exagerados, esses não tem salvação.
nas partículas ínfimas da poeira
lá vai um resto de móvel, de múmia, de cobre
pedras, água, sol e vento
tudo misturado
assim compulsivamente
a nos amalgamar nessa vida.
E, a gente insiste em apenas ser indivíduo.
E, minha consciência grita biblicamente:
- do pó vieste, ao pó voltarás...