VIDA DE TANTAS SAUDADES
A fazenda era cortada por um brejo.
Lá a vegetação nativa era mais verde e mais viçosa.
As palmeiras de buriti, guariroba e macaúba
Desfraldavam-se feito bandeiras hasteadas
Sob a paz de um céu de anil.
Eram os espigões do santuário ecológico,
Adornado pela presença e aroma dos brancos lírios,
Das vertentes d’água cristalina
Que murmuravam na dança das cascatas.
Ali, a natureza debulhava-se em sacrários.
A cada passo, o descortinar de novo palco a céu aberto.
As garças brancas, em acrobacias teatrais,
Sobrevoavam a morada.
O rouxinol fazia a orquestração.
Até o joão-de-barro podia ser visto
No seu árduo trabalho de fabricar a casa:
O ninho trançado com esmero,
Em perfeito artesanato.
Os últimos raios de sol,
Filtrados pela folhagem dos coqueirais,
Permeavam os pequenos alcatifados de flores,
Emprestando ao lugar uma santidade maior.
Assim, guardo,
Como marco de ternura indelével,
Os dias que lá se foram do meu tempo de criança.
Lembranças de minha vida,
Vida de tantas lembranças!