As Horas

As horas me invadem.

Como ganchos profundos em minha pele,

Suspendem-me, sangram cada minúsculo poro.

E eu olho tudo, calado

esperando o momento de me mover.

Cada frase disparada,cada dedo apontado...

cada símbolo inútil de certeza.

Me suspira,me chove em partículas,

banhando suavemente o nada absoluto.

Seus ouvidos mancham o ar com a surdez estática de mil anos desperdiçados.

e nada é sóbrio nesse labirinto de vozes.

As horas me invadem.

Você se desfaz lentamente dos seus gostos

De silêncios colecionados por anos,

de milagres malditos que duram um piscar de olhos.

Resta apenas deitar de olhos fechados,sentir o medo celestial

Absorver o cinza do arco-íris projetado na parede

e prever o fim.

As horas me invadem

e moram,cegas, dentro de mim.