O velho e o varal
Penso no velho Mercedes
tão lento... tão lento
vendedor de redes
ainda trabalha
num mercado público,
como tantos velhos,
no centro
seu olhar calado,
vê sem olhar,
branco e longo cabelo
impõe respeito,
com seu tempo contado,
ainda tem tanto trabalho
nem tenta enganar o tempo...
lento... lento olhar
que já criou
mais de mil redes,
que viu o mundo e todo o mar,
teve filhos,fincou raízes,
amou no luar,
é agora vazio,
a alegria o deixou
sem gostar de esperar...
sem querer os filhos incomodar...
despreza as lentes...
briga com as fracas e lentas pernas
(óculos nem pensar...)
sente falta de dentes...
se acostuma com os tremores,
sente saudade de amar!
suas mãos tão crivadas de
saltadas veias,
quase sem pele,
marcas da transparência da vida,
como em seu rosto ,
cara de rugas cheia
olhar de espera ...
de dor que não some....
de saudade que consome...
de vida que o tempo termina
numa sentida ,lenta agonia sem nome
enquanto no arame
a roupinha azul,
da sua falecida esposa- namorada ...
(foi a sua última lavada,dona!)
(era tão preocupada com a casa,mulher muito limpa,dona!)
vai ficar........eternamente no varal
(enquanto espera pela roupa dele!)
limpa...
perfumada...
pendurada....