O velho e o varal

Penso no velho Mercedes

tão lento... tão lento

vendedor de redes

ainda trabalha

num mercado público,

como tantos velhos,

no centro

seu olhar calado,

vê sem olhar,

branco e longo cabelo

impõe respeito,

com seu tempo contado,

ainda tem tanto trabalho

nem tenta enganar o tempo...

lento... lento olhar

que já criou

mais de mil redes,

que viu o mundo e todo o mar,

teve filhos,fincou raízes,

amou no luar,

é agora vazio,

a alegria o deixou

sem gostar de esperar...

sem querer os filhos incomodar...

despreza as lentes...

briga com as fracas e lentas pernas

(óculos nem pensar...)

sente falta de dentes...

se acostuma com os tremores,

sente saudade de amar!

suas mãos tão crivadas de

saltadas veias,

quase sem pele,

marcas da transparência da vida,

como em seu rosto ,

cara de rugas cheia

olhar de espera ...

de dor que não some....

de saudade que consome...

de vida que o tempo termina

numa sentida ,lenta agonia sem nome

enquanto no arame

a roupinha azul,

da sua falecida esposa- namorada ...

(foi a sua última lavada,dona!)

(era tão preocupada com a casa,mulher muito limpa,dona!)

vai ficar........eternamente no varal

(enquanto espera pela roupa dele!)

limpa...

perfumada...

pendurada....

Brigeth
Enviado por Brigeth em 07/03/2008
Código do texto: T890577
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