ANA

[aos moldes da poesia contemporânea]

Eu necessito inventá-la

    toda manhã

porque só sua ausência

foi presente.

Tecê-la pictórica

    — inventá-la —

como se o sol

nascesse desses olhos

entre as linhas das montanhas

da cidade,

compondo aos meus olhos

um mapa cego de luz.

    — reinventá-la —

para poder dizer-lhe

neste instante

  do crime:

      tua beleza

      assalta-me a razão.

E a realidade já não é

senão uma mímesis

de algum lirismo

    xoxo...

    capenga...

    o que seja.

Mas é preciso pintá-la

com certo eufemismo:

a imponência dos anjos

não se emolda às retinas.

É necessário reinventá-la

à luz criadora presente

    acima da ilusão das cores —

e não com as cores

(as cores, reinventá-las):

pois cores descascam

as horas,

inventam outros tempos,

    amarelados de fusos.

Seria exigido mais

que as mãos à esculpir

     o silêncio

do mármore.

Seria necessário criá-la.

Lusca Luiz da Silva
Enviado por Lusca Luiz da Silva em 18/04/2025
Reeditado em 18/04/2025
Código do texto: T8312070
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