M A R I A

Pobre, magra, fraca

sem letra, com muita fé

despida, desrespeitada

enraizada na jurema

do anoitecer.

Minha mãe…

Lavadeira, passadeira

fiel, amante das rosas

guerreira sem lança e

escudo… mas, mesmo

no escuro ela gestava.

minha mãe…

Perdas e danos

assim foi su vida

no entanto, nos lajedos

da vida, muita roupa lavou

as sujeiras dos seus doutores.

Não reconhecida. Padecida.

Minha mãe.

Humilde, devota, corajosa

sem pai, amargurada

tristonha, sem razão para

comemorar. Faltava-lhe pão

copo para brindar.

Mas, lá ela sempre restava.

Minha mãe.

Nordestina, espartana

parideira de guerreiros

que muitos cedo tornaram-se

migrantes pelas estradas de

um Brasil desconhecido.

Mesmo cansada. Lá

ela ficava a esperar.

Minha mãe.

Treze filhos, quatro vivos

com vida - espelho d’água

que a iluminava nas ondas de um rio

silencioso, assim como era

seu sofrer, padecer. Já no

final veio outro rebento

arrebentando tudo.

Não aguentou, apenas suportou.

Mas, não desistiu. Pariu.

Minha mãe.

Benzedeira, parideira

gerada na eira de uma

vida má dastra. Escravizada

enraizada nas raízes do serrote

minha sorte… suportou o mau

e agarrou-se no bem.

Ela ainda é muito boa.

Resina pura

Minha mãe.

Calada, engasgada com as

traições da vida, rejeitada

assim mesmo Dolita lhe

ensinou a ser empoderada.

Toma conta da beira da

rapa do teu tacho.

Calculei-me estou.

Minha mãe.

Casada, mal paga, enviesada

nas linha de uma costura torta

sem borda. Apenas dedos finos

aproveitando retalhos para cozer

afinal, necessitava tapar-lhe

as vergonhas. Suas e minhas

Minha mãe.

Desertou, desandou, falhou

perdoou, carece perdão,

não deixou o bastão nem

para Bastião, seu varão.

Rita, Judite, Raquel e Isabel

todas fêmeas… lindas como

Yemanjá, rainha das águas

que aos poucos sumiram.

Mas, a deriva da seca não

aportou seu barco em

qualquer lugar. Mudou-se

do beira mar rio, para a

canção que vingou. E

balbuciando, rogava.

Mãezinha do céu. Rezava

mas, não pregava. Só escutava.

Minha mãe.

Mudou de direção

dimensão… não sei onde fora,

permanece viva, ativa

crente que na escuta

que a oração é sua melhor

comunicação. Partiu, no

entanto nunca desistiu

de parir-me, mil vezes

fosse… para deixar-me em pé

Minha mãe.

Não muito poética

às vezes patética

sem ética… de beleza

rara ao contemplar sua

cria. O lambia, rendendo-lhe

carícias tardia, mas que um dia

o faria feliz… mamãe.

Ela era simples assim …

Minha mãe.

Editada em 03.03.25

Eugênio Costa Mimoso.

Maria Mimosa de Oliveira

(em memória)

Minha mãe.

Eugênio Costa Mimoso
Enviado por Eugênio Costa Mimoso em 03/03/2025
Código do texto: T8276826
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