Juazeiro
Juazeiro. fazem 50 anos,mas parece-me que foi ontem.
Lembro da madrugada em que te deixei,
Eram tuas ruas desertas e silentes
E o eco dos meus passos persistentes
Era a única coisa a acompanhar-me,
Era talvez o adeus que estavas a dar-me
Ao abandonar-te, eu, que tanto te amei.
Lembro da madrugada em que te deixei,
Por tuas ruas mal iluminadas,
Andava eu, e o vento nas calçadas,
Alçava palhas e pó assobiando,
O eco dos meus passos acompanhando.....
Nunca a esqueço, eu que tanto te amei.
Lembro da madrugada em que te deixei
Eu que era teu filho, e que partia,
Partido estava em mim, e assim batia,
Meu coração, que ingrato te deixava,
Corria silenciosa a lágrima que brotava
Do imo de minha alma!... Como te amei.
Lembro da madrugada em que te deixei,
Pareciam-me tristes as tuas ruas,
Desertas e silentes, calmas e nuas,
Como uma amada a quem o amor fugisse,
Ou como a mãe que ao filho que partisse,
Oferecesse o seio como abrigo,
Fizeste então a dor partir comigo,
Eu que te amava tanto! .. Como amei.
Lembro da madrugada em que te deixei
E na pequena mala que eu levava,
Mesmo quase vazia como estava,
Achava-se a preenchê-la tua lembrança,
Era eu ainda bem jovem, uma criança,
Que seguia seu fado sem deter-se,
Carpindo a maior dor que possa Ter-se,
Deixar-se a quem se ama,.... Como te amei.
Lembro da madrugada em que te deixei,
Como aquela partida me pesava,
Deixando tudo,........ Tudo quanto amava,
Tinha o peso da angustia a abater-me,
E dentro da alma a tentar deter-me,
O meu amor por ti,..... Como amei.
Lembro da madrugada em que te deixei,
Que em tuas silentes ruas então eu via,
Meus colegas de infância, e que ouvia.
As suas vozes no vento sibilante,
Na solidão me vinha a todo instante,
As lembranças de ti,.... Como te amei.
Lembro da madrugada em que te deixei,
Eu ia muito triste, AH! Como eu ia....
A tristeza era tanta que caia,
De mim aos borbotões e se irmanava
Ao zunido do vento que passava
.... Em ti soprando; AH! Como te amei.
Lembro da madrugada em que te deixei,
Nas tuas ruas mal iluminadas,
O vento que te varria as calçadas,
Gemia os meus gemidos docemente,
E dos meus passos, o eco tão pungente,
Andava junto a mim,....... E triste ia,
Irmanado na dor que eu sentia....
...porque partia; AH! Como eu te amei.
Lembro da madrugada que te deixei,
Hoje, porém, bem sei não me deixastes,
No âmago do meu peito tu ficaste
Ali estás, e nunca hei de perder-te,
Onde ficaste hei de sempre Ter-te,
E onde for comigo hei de levar-te,
Fartar-se-á minha alma de amar-te
Qual te amava em criança; AH! Como amei
Lembro da madrugada em que te deixei,
Após ela milhares se passaram
Mas as lembranças que em mim ficaram
Foram fortes demais para esquecê-la,
Em fortes cores possa descrevê-la;...
O silencio da noite, a ventania,
O eco dos meus passos que eu ouvia,
As palhas revoando nas calçadas,
....... As tuas vias mal iluminadas,
O calçamento tosco das tuas ruas,
Feito de pedras irregulares e nuas,
Pelo uso polido, escorregadiço,
Pedras quase vermelhas, e tão roliças,
Que pareciam ser a mão lavradas,
Todas as cenas estão em mim gravadas
E são amadas,......... AH! Como eu te amei.
Cidade amada,...... AH! Como eu amei,
Amei-te não! ........... Eu continuo a amar-te!
E em meu amor eu continuo a Ter-te,
E em meus sonhos eu continuo a ver-te,
E em minha vida continuo a dar-te
Aquele amor que trouxe ao desertar-te,
Na fria madrugada em que te deixei.
Dedico este poema a minha cidade natal, JUAZEIRO do NORTE, onde vivi até meus Quatorze anos, e a todos meus colegas de
Infância e juventude, que não vejo desde então