ESCREVER
ESCREVER
Escrever
Ver
Rever
Fuçar
Procurar
E não achar
Eis a agonia
De pegar na pena
E perceber
Que quando se vê
Ao achar que não tem nada errado
Logo na primeira página
No primeiro parágrafo
Tem um erro desses crasso
Pior que usar um compasso
Quebrado
Escrever exige calma
Vai escrever com raiva
A tendência é sempre
Quebrar a cara
Ainda mais se a edição
Fica nas suas mãos
Aí por uma palavra errada
Quer jogar o texto todo na privada
Porque a perfeição
Não é fácil não
Mas um erro tão na cara
Não é coisa que se faça
Por uma palavra errada
Toda obra é que paga
Porque escrever
É mexer
Com vespas
Que não gostam e não aceitam
Serem controladas
Ai daquele que acha
Que sabe de cor
Todas as palavras
E abandona o pai dos burros
Na hora da edição
E depois fica com cara de bobão
Escrever não é fácil não
Ainda mais sem a tal de inspiração
Inspiro só o ar
Essa tal de inspiração
Até hoje só conheço de ouvir falar
Para mim é tão invisível quanto o ar
Mas cismam que ela existe e está
Lá
Lá, aonde?
Não dizem
Não respondem
Mas querem teimar que para esse trabalho fazer
Só com ela pode crer
Não creio
Só escrevo
Creio em Deus
Esse que nos mantém
Vivos e inspirando
E expirando
Até completar Seus planos
E assim com meus pensamentos vou teimando
Sem inspiração nenhuma
Sigo
Escrevinhando
Porque o erro proposital
Deixa até uma poesia como essa
Mais requintada
Faz tempo que não tomo uma boa coalhada
Igual as que minha vó fazia
Lá em casa
Ou aquele doce empelotado
Com leite de saquinho estragado
Porque ela sabia como aproveitar
As coisas que tinha a mão no lar
Muito antes de alguém vir com essa moda de reciclar
Nada desperdiçava
Até casca de banana ela usava
Saudades dessas minhas velhas que eram umas danadas
E nem de velhas gostavam de serem chamadas
Como sinto sua falta
Renato Lannes Chagas