A canção
Onde foi que deixamos uma canção,
Perdida, maltrapilha, ignorada?
A deixamos escondida no fim de nós mesmo,
E procuramos regar, sonoramente, nossa solidão
Com a lembrança reavivada por essa canção.
A letra fala a mensagem da saudade
De momentos que parecem eternos.
Fala daquele dia em que uma abraço foi a cura
Para a nossa sede de amor.
Fala do perigo guardado no peito do melhor amigo,
Que não mais queria ser só fraterno.
Mas queria ser o laço, a lágrima e o beijo.
Onde ressoa agora essa canção?
Ressoa na imersão do nosso desejo,
Que já fora tão ardente,
Que nos fez tão transparentes
A ponto de não ligar para olhos alheios,
A ponto de roubar o beijo à mão desarmada
E sair perdidos na noite calada.
Rufam os tambores e os murmúrios cessam.
A canção agora é a nossa saída, nossa despedida.
A canção é a cura, o encontro, a procura.
E as mãos se encontram pela impossibilidade
De não se desatarem jamais.
Nossa história se mistura com que ainda está por vir,
E queremos que a saudade de nós mesmos seja
Acompanhada por uma canção que ainda não foi escrita,
Pois esta, será feita sob a partitura de cada instante
Que ainda regozijaremos com o olhar distraído da lua
A nos espreitar quando andarmos com os braços
Jogados ao vento caminhado pela rua,
Sem tempo, sem pressa, sem perceber.