A canção

Onde foi que deixamos uma canção,

Perdida, maltrapilha, ignorada?

A deixamos escondida no fim de nós mesmo,

E procuramos regar, sonoramente, nossa solidão

Com a lembrança reavivada por essa canção.

A letra fala a mensagem da saudade

De momentos que parecem eternos.

Fala daquele dia em que uma abraço foi a cura

Para a nossa sede de amor.

Fala do perigo guardado no peito do melhor amigo,

Que não mais queria ser só fraterno.

Mas queria ser o laço, a lágrima e o beijo.

Onde ressoa agora essa canção?

Ressoa na imersão do nosso desejo,

Que já fora tão ardente,

Que nos fez tão transparentes

A ponto de não ligar para olhos alheios,

A ponto de roubar o beijo à mão desarmada

E sair perdidos na noite calada.

Rufam os tambores e os murmúrios cessam.

A canção agora é a nossa saída, nossa despedida.

A canção é a cura, o encontro, a procura.

E as mãos se encontram pela impossibilidade

De não se desatarem jamais.

Nossa história se mistura com que ainda está por vir,

E queremos que a saudade de nós mesmos seja

Acompanhada por uma canção que ainda não foi escrita,

Pois esta, será feita sob a partitura de cada instante

Que ainda regozijaremos com o olhar distraído da lua

A nos espreitar quando andarmos com os braços

Jogados ao vento caminhado pela rua,

Sem tempo, sem pressa, sem perceber.

Márcio Ahimsa
Enviado por Márcio Ahimsa em 19/01/2008
Código do texto: T823917