Oceanos

Um pulmão oceânico de centenas de milhares de metros

De mar, que não para por um segundo de respirar

No ir e vir das ondas que vem e vão

No sabão a beira da areia molhada da praia

Onde beijos e abraços se encontram

Na saudade de quem chega em casa

A despedida de quem vai embora

E há quanto tempo eu fui embora daqui?

Quando ainda via e vivia no ar dessa vila

Que agora é metrópole e tem avenidas

Quanto tempo faz que eu brandei ao mundo minha vitória?

Minha eterna soberania diante do que é patético

Até mesmo de mim (sim, eu me julgo o mais certo

Mas as vezes recaío em mentiras sem fundo e vejo que também sou patético)

Criado no tédio de não ter

No desejo de não conseguir

E nada me dá mais saudade que olhar pra entrada da minha casa

Agora vazia, o tempo a levou.

Me afundo então, na bebida

Boemia, sem linha de partida

Sem final, sem platéia

Só eu, meu copo e dois dedos de prosa

Digo, de pinga

E então ligam a tevê e um homem azul toca blues

Que engraçado, eu acho tudo um máximo

E a mulher ao meu lado fala em línguas que eu não conheço

Briga e reclama, será que eu to bêbado?

Então bebo

Ih, ela fala espanhol

É... estou bêbado

Eu pergunto seu nome e de onde

Ela me diz saudade

Não é esse o nome e sim de onde

O nome não importa, ela fala enrolado

Eu me enrolo no copo

Limpo a boca no guardanapo

Cumprimento-a com um abraço

É eu me sinto sozinho

Estrangeiro num quarto de hotel alugado

Na minha cidade, no meu próprio país

Sem meus pais, sem ninguém

Infeliz

Que saudade que eu tinha da casa

Agora a saudade era só o que me restava

Ela me deu um beijo no rosto

A saudade, não a moça enrolada

Acordei nos braços dela

Não da saudade, dessa vez

Ela me disse que vai embora

E ecoou na minha cabeça

Sim, ela vai embora

Então pegou as malas, me chamou

Vem, vamos embora

Disse não

Não vou embora

Ela disse porquê?

Eu disse não sei e sentado eu pensei

"Pois é, eu não sei!"

Me levantei

O quarto nem paguei

E fui embora com ela

Meu anjo da guarda