Cenários
Será que sentirei saudades?
A falta do cheiro?
Ausência do toque?
O silêncio da voz?
Acordo e rezo,
Sempre tarde,
De tarde,
Após outra noite sem fim.
Um incomodo me persegue,
No decorrer do dia,
Ele se transforma em dor,
A intensidade aumenta,
Só para lembrar que ainda está ali.
Tento me manter tranquilo,
Ausente a tudo o que está acontecendo,
Mas a causa é angustiante,
Saio,
Acendo um cigarro,
E vem a paz,
Que nesta vida é algo inconstante.
Converso com o diagnóstico,
Falta outro exame,
Ansiedade perversa.
Velas ao mar,
Tempestade pela frente,
Mesmo com lágrimas nos olhos,
Sigo adiante.
Luto com o que me resta de forças,
Contra o inimigo íntimo,
Sagaz,
Voraz,
Usa o tempo a seu favor,
Sua vitória,
Determina o meu fim.
Recordações de um distante passado,
Se tornam cada vez mais presentes.
Encontros inusitados,
Canções não mais ouvidas,
Lugares degenerados,
Reconstruídos em lembranças,
Guardadas,
Todas em mim.
Sinto cheiro de grama cortada,
Uma gota de orvalho,
Se dizima ao cair,
O frescor de pinheirais,
Pássaros em revoada,
No pasto,
Vacas a ruminar,
Um rangido da porteira se abrindo,
Lá,
Tudo começava assim.
Aqui reina o silêncio,
Saudades,
Dos que ainda estão aqui,
Me renova o amor dos meus,
Se há esperança,
Sigo,
Ainda não foi determinado o fim.