Retalhos

ontem, lembrei dos seus retalhos

que ficaram jogados no vazio da minha saudade

e que fizeram meu coração ser música por um tempo

retalhos do que sobrou de um tal amor que vivemos

e que ele não nos viveu

eu e você fomos de alma, por incrível que pareça

foi cordial enquanto durou

vivemos a vida como principiantes, inconsequentes, e desordenados

eu, um garoto sem medo, que parecia ter vindos dos anos setenta

e você uma garota que morria de medo de garotos como eu

erámos um rock tocado em pandeiro

corremos no limite do que fundamentaram paixão

dançamos cada nota, de cada samba, de cada esquina

e nos perdemos na incerteza do que seríamos a partir dali...

eu, quis ficar

já você... queria o mundo

mesmo sabendo que eu era capaz de te entregar

porém, sempre esqueci de cumprir as promessas que eu juro

e sempre senti na pele a consequência de levar a vida com um show

fiz da sua vida um show, como a minha

porém, no palco só tocavam as minhas músicas, não as suas

e por isso, você sempre esteve certa em ter medo de garotos como eu

te prendi ao meu blues, onde você nunca quis ficar

até hoje tenho em epiderme o arrepio de te sentir chegar

eu espero te encontrar em alguma volta

dessas que o povo diz que o mundo dá

só pra ver se ainda terás medo de blues

Poeta de quinta
Enviado por Poeta de quinta em 20/11/2024
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