Colo criança
Vassoura de pindoba
A alargar a veredinha,
E abrir o mundo
Às molecagens matutinas.
Enquanto a erva cidreira
Fervida no bule velho
Engostosava o olfato
E estipulava as disposições.
Depois de meia tora
De rapadura com farinha
Quem não corria era molemente
Prejudicado nas alegrias.
E alguma benzeção se dava
Nos ornamentos líricos
Dos passarinhos do pé
Da mexerica miúda.
Pois era quando a toada do dia
Era dada em tom maior,
Maior que nós
A primaiada reunida.
Não havia nada além
De um quintal verdinho
Orvalhado e gigante.
De avós alvas e ternas.
Os olhos remelentos
Nem sabiam que era ali
Que moravam as delicadezas
E as saudades futuras.
Das bondades maternais
A sussurrar biscoito frito
E escorrer até os cotovelos
O gosto da manga madurinha.
Tudo escondido e achado,
Tudo a boca miúda
E a boca arreganhada
De agregações.
O formigueiro feito em montanhas
As mãos ao chão e as pernas ao ar
Nas competições consteladas
E nos gritos de festejo.
A pendurança de cabeça pra baixo
E o esticamento das cordas
Naquela pulação sem fim,
Dava de usurpar o bofe.
O banho na gamela
As encantações dos grilos
E as taramelas das janelas
Cerrando a tardinha laranja.
O fogo esquentando os afetos
O chiado das coisas fritando
E o cuspe cuspido pra dentro
Na fome dos atiçados.
E quando endinoitava
O prato esmaltado
Queimava as coxas
Da fartura à lenha.
O chuchu recolhido
Nas imensidões curraleiras
Tinha gosto de ontem
E de até outro dia!
A saparia lustrava a noite
E o abacate caído de madrugada
Afobava o sonho.
Era irreal e grande. Bem grande.
Tudo era de uma abastança
Que não se media em coisas
Mas em fartura de felicidade
E em velocidade no brincar de onça.
As coisas eram sem igual
Feito um sonhar de menino
No colo criança
De uma avó perfumada.