A cada km
Lá vai o vento, a cada km
um velho amigo que escapa pelos dedos,
levando embora o som grave de um motor distante,
ecoando na estrada como um trovão que se despede.
A cada km no asfalto líquido,
memórias brilham como óleo derramado,
manchas dos sorrisos que restaram,
uma bússola que perdeu o norte,
mas ainda busca, ainda gira, sem destino.
Cada km é uma saudade mal lapidada,
rodas que cantam promessas nunca cumpridas,
e o chão que foge dos pneus como um segredo,
escondido entre o asfalto quente e o frio do metal.
Há um peso no peito , na imensidão invisivel
uma presença vazia que ainda vibra no recordar
Do aço que corta o vento,
sussurrando que o tempo não apaga as marcas.
Entre o deslumbre do caminho e o gosto do medo,
fica o rastro de um desejo inacabado,
não se perde a máquina, nem a estrada,
mas dentro grita a faísca, o tremor,
o lampejo da eternidade, que poderia ser, não foi, que passou, sem retorno.
E a cada km se apaga um pouco mais.
(@Rafa krek)