ESQUECI TEU ROSTO

Esqueci teu rosto

como o vento esquece o rastro

na curva do rio.

Ficou a memória difusa,

um vulto de luz que se apaga

no meio da tarde,

um eco distante de riso

que já não reconheço.

Esqueci teu rosto

como a bruma some

na chegada do dia,

dissolvendo-se em névoas

que o tempo levou.

E os olhos que um dia me olhavam

são agora silêncios vazios,

sombras entre sonhos

que não se completaram.

Esqueci teu rosto,

mas não o que senti.

Há algo de eterno no esquecimento,

um mistério que repousa

entre o que foi e o que jamais será.

E talvez, sem teu rosto,

eu encontre o caminho

de me lembrar de mim.

Tião Neiva

TIÃO NEIVA
Enviado por TIÃO NEIVA em 08/10/2024
Código do texto: T8169032
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