ESQUECI TEU ROSTO
Esqueci teu rosto
como o vento esquece o rastro
na curva do rio.
Ficou a memória difusa,
um vulto de luz que se apaga
no meio da tarde,
um eco distante de riso
que já não reconheço.
Esqueci teu rosto
como a bruma some
na chegada do dia,
dissolvendo-se em névoas
que o tempo levou.
E os olhos que um dia me olhavam
são agora silêncios vazios,
sombras entre sonhos
que não se completaram.
Esqueci teu rosto,
mas não o que senti.
Há algo de eterno no esquecimento,
um mistério que repousa
entre o que foi e o que jamais será.
E talvez, sem teu rosto,
eu encontre o caminho
de me lembrar de mim.
Tião Neiva