Manifesto

Foi-se ruflando o pássaro tão lindo

Emplumado de imaculada brancura

E lembrou-me das manhãs de domingo

Em que eu era acordado sorrindo

Afogado em serene ternura.

Longe da minha vista, beirando o horizonte

A ave mágica mistura-se em arrebol

E lança suas asas até desaparecer no sol

Atrás das casas que beiram um monte

Paraliso os dedos a acochá-los no banco

E sinto a minha roupa pesar.

Como queria ser a ave atrás do monte

E valer-me das asas atrás do horizonte

Onde talvez possa novamente te encontrar.

Ensinei-te a abrir os olhos

Ensinei-te a cantar

Porém, pra meu maior arrependimento,

Sem contar com a envergadura das tuas asas,

Ensinei-te a voar.

E na saudade registro o protesto

Da minha alma que não quer calar

E trago em mim como manifesto

Versos como as asas do pássaro...

De um pássaro que não pode voar.